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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Acompanhante de luxo


É... desde adolescente eu tinha essa fantasia. A fantasia de ser acompanhante de luxo. Acompanhante sempre soou na minha cabeça como alguém tão legal, tão bom, que as pessoas pagavam para ter a “companhia” dele ou dela... depois dos doze anos que fui entender o que realmente significa acompanhante de luxo.
Descobri, lógico, pelas fotos dos jornais sem censura que circulam livremente pelas ruas sem que nenhuma beata sequer venha incomodá-los. Tudo bem, afinal as garotas nuas aparecem em horário nobre na TV e nas capas destes mesmos jornais.  Ah se fosse na minha época de moleque.
 Resolvi então, que queria ser acompanhante de luxo, pelas duas definições que relatei acima. Eu tinha tudo que eu precisava: carisma, beleza, na época ainda tinha cabelo, disponibilidade de horário e a ferramenta principal... juventude!
Quem diria que um dia eu realizaria dois sonhos: ser engenheiro e ser acompanhante. Ser engenheiro veio da maneira natural, depois de cinco anos bem gastos na universidade. Já o acompanhante, não veio como eu pensava, como eu queria e principalmente, não veio do jeito que eu conseguia entender.
Hoje eu sou engenheiro durante o dia e acompanhante à noite. Me divido entre os programas. Os de PLC quando está claro, e os programas da TV, depois das 22: remédios de 3 em 3 horas, idas ao banheiro ou trazidas de comadre, papos infindáveis com os enfermeiros de plantão e um confortável cochilo na cadeira verde que está em um lugar diferente a cada mês.
No meio dessas paredes brancas, em meio a essa gente branca, não me vem nada à cabeça além de um fruto. Um fruto que enquanto está no alto, na árvore, no bando, não se deixa abalar. Permanece firme e vai amadurecendo sempre. Quando o fruto cai do pé e se afasta dos seus, não tem a menor condição de sobreviver e vai definhando. Pois se sentar ao lado deste fruto, na cadeira verde e nômade que também é hotel, leito e escada para trocar os canais do televisor que fica no meio da parede, não é fácil. Ver um fruto que era sadio, vistoso, vermelho e de carne dura ir se transformando em uma única massa mole e putrefata lentamente com o passar dos dias dói. Talvez mais em mim que sou o acompanhante de luxo desse processo natural, do que dói de fato no fruto. É estranho pensar no fruto que se esvai sem ter certeza de em quê o fruto pensa, se é que ele pensa ou já desistiu de pensar e só sabe sofrer.
Ora bolas, o fruto sou eu! Bem, agora nem sei se sou eu sou o fruto ou o fruto do fruto, ainda jovem mas nem tanto, que observa tudo de cima da árvore, esperando sua vez de cair, esperando definhar, esperando secar, esperando por um milagre ou que o super-homem voe ao redor da terra no sentido contrário à sua rotação fazendo com que o tempo volte, e o fruto que se vê de longe volte e se dependure novamente na árvore, volte pra casa, volte pra vida até que chegue a hora de cair novamente.