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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Novo menino velho

Ê idade. A seta do tempo. Assim como a entropia num sistema fechado a disgreta só aumenta. Mas eu acho que na minha cabeça, "Você tá velho", "Você envelheceu, hein!?", "É o peso da idade!" não soam tão mal como na cabeça das outras pessoas. Para começar, queria desfazer um paradigma. Não existe esse negócio de "estar velho". Uma vez velho, sempre velho. Então, a partir de um determinado momento você passa a ser velho e não a estar velho. Outra coisa, velhice não é relativo. Eu acho pessoas de 29 anos velhas. Novas são pessoas de 18. Ponto.

Ser velho é bom por vários motivos e como este blog que quase vos fala é dado a argumentações nem sempre triviais, seguimos. Ser velho é bom pois temos desculpas para tudo. Mais ou menos igual quando se é casado. Você pode rejeitar qualquer convite em nome do casamento e da mesma forma em nome da velhice. Nada é pra gente velha e tudo é de gente velha. Eu adotei a seguinte frase para qualquer pergunta que se faça e eu não queira responder: "Gente velha é assim mesmo!". Funciona perfeitamente.

Vez em quando me interpelam: "Cê tá velho, hein...". Apresso-me em responder: "Ora bolas, sou como um bom vinho!". "Ah sei, melhora com a idade?", "Não, tenho 12% de teor alcoólico"! Sabe o que é não estar nem aí pra velhice de uma tal maneira, que ainda fico de barba para parecer mais velho, ou com carinha de 35 e corpinho de 34...

Claro que a gente pensa na saúde, quando lembra da velhice. Até parece que gente velha não tem saúde. Veja bem: Eu tenho uma hérnia de disco que meu irmão de 24 anos (te ajudei, hein Thales, pois bem sabemos que além de você ter 26 ainda é meu irmão mais velho) já teve quando tinha 22. Tenho um joelho podre que me acompanha há 10 anos e um resfriado que peguei no domingo que ao invés de ficar novo na terça tive que tomar sopa de inhame e ficar de cama, além de tomar um remedinho, mas to sarando.

Careca já sou desde os 19, e isto é ponto a favor, pois nesta idade que estou, isto é bastante comum e ninguém mais parece notar. As piadinhas que eu contava nem fazem mais efeito, e ainda me dizem: "Que nada, você nem é tão careca assim!". Essa velhice que eu tenho ainda é bastante legal por um motivo interessante. Você novinho, 19, 20 e poucos anos, tente sair com uma mulher de 40... estranho né. Agora, depois dos 30, você está apto a pegar mulher dos 18 aos 58 sem maiores constrangimentos. E porquê não?

O ponto principal de quando você está velho é as pessoas te chamarem de senhor. O senhor poderia isto, o senhor gostaria daquilo... Olha, se o senhor poderia/gostaria eu não sei. Não sou desses que entende das vontades do senhor, mas eu poderia/gostaria. E como eu gosto de chamar os outros de jovem... não sei se é genético ou algo do gênero, mas garanto que chamando todos de "jovem", posso me manter velho para sempre!


terça-feira, 2 de abril de 2013

Que horas são?

Como sabemos a hora de partir? De desistir? De libertar? Sempre chega a hora, mas como identificá-la? Não é fácil, mas é necessário. Não é como olhar um relógio e dizer "Dez prás sete!". Não é como um despertador que "bipa" quando está na hora de acordar, ou quando não está mas é fim de semana e você pode dormir até mais tarde. Não é como o sino da igreja do lado da minha casa que às seis da manhã em ponto badala no feriado.

A hora da partida, sem ser a de futebol, depende muito de quem e do quê vai partir. Baseado nessa premissa, podemos tentar fazer uma ordem de facilidade de esquecimento/compreensão da despedida/partida/desistência/libertação/datijuca. Em último lugar, os bens materiais. Quem se importa em perder um pé de chinelo, um pente, ou até mesmo aquele carro importado depois de uma capotagem espetacular da qual você sai ileso? Acho que só eu mesmo.

Em seguida, os bichinhos. Tadinhos. São parte da família na maioria das vezes mas mesmo os gatos, que têm várias vidas extras não costumam viver mais que as pessoas da família. A não ser que você o seu bichinho seja um cágado que fique perdido por trinta anos e reapareça (true story, bro). Então deste ponto de vista é mais fácil dizer adeus a um animalzinho de estimação do que a um ente.

Classificar parentes já é mais complicado. Tem sempre aquele primo que se dá melhor, uma tia mais querida, um afilhado ou sobrinho de terceiro grau que foi criado como filho. Então essa classificação vai ficar por conta de cada um da maneira que enxerga as coisas.  No final das contas, quando é preciso, nos despedimos. Dizemos adeus ou até logo. Dizemos sofrido, aliviado, esperançoso na volta ou na chegada. Dizemos sentido ou por dizer. Dizemos adeus, dizemos tchau, dizemos até... Dizemos pensado e dizemos de repente.


"De Repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente."

Adeus!